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'SAUDADISINHA'        

 

Saudar

Sol us

 

... Ele sente

Galego

...ele sente

 

Solidão dos portugueses

Numa terra estranha

Melancolia

Quem sofre é quem fica

Não quem foi.

Quem foi é nostalgia.

 

Familiaridade com a palavra

Fidelidade em expressar o sentimento

Esta palavra exclusiva

Da nossa língua

O esqueleto cede

O ar flui

O olho entrega

Liquefece

Uma imagem transparece

 

Concebida

Advinda do diálogo

Nascida

Escapada

Surgida

Navegada

Saudade velejada

Pinta, Nina e Santa Maria

Tradição marítima lusitana

Tripulantes colonizadores

Que seguiam a bombordo

Borda boa pra quem vai descer pela África

Popa polpuda de terra de popozudas

Proa aprumada

Prumo tripé

Cruzar o além-mar

Sequencia latina

Ao contrário do beduíno

Parece que em árabe há

Não existe ser e estar

Harém

Areia

Ouro

Mouro

Português

Louro

Macho Alfa Beto

 

Gênese do vocábulo

Síncope

Solitodinis + Salvare

Apócope ao final

 

Sétima no ranking

Mais difícil de traduzir

 

Saudade

Fado de fatum

Destino confabulado

 

Aroma do mar

Quem nasceu ao nível

Sal

Longe de casa, cloro.

Das 9 as 9

Sol a sol

Cus cus

Ligue ligue

“Geneal”

Croquete tostado

Jacaré de isopor

Ar marinho

Águas passadas

 

Saudosista

Apegado

Ideias do passado

Algum regime derrubado

 

Saudoso

Algum samba

Clima fossa nova

Só no sapatinho

De Bamba

 

saudar,

solidão

soedade

soidade

suidade

solitude

 "saudade"

força do estado de estar só

 

‘Saudadisinha’

 E você, Negão, reduz esta saga a um diminutivo?!

 

Giovanna Gold © todos os direitos reservados a autora

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Halam Hufad

 

      Eram dois tuaregs que encontraram uma bolinha. Será do além? Perguntou Halam.Só há uma resposta disse Hufad, tomar.Será?Quantos anos voce tem, Halam?Por quê?Você já encontrou e tomou uma bolinha?Não.Então vamos dividir e tomar.Tá bem.Pegaram o punhal curvo e dividiram em cima do prato de barro. Assim a seco? É. (Nossa que redundância! Não aprecia o silencio do vento na areia Pensou Hufad..Aqui tudo é seco)

     Iam juntos para Curèe salé, um festival que marca o fim da estação chuvosa desse povo que habita no deserto. Dali pra lá. Essa festa comemora a troca dos sais e abre experiências para noivas experimentarem maridos até o próximo festival. Esse pessoal nômade que prefere não sedentarizar e viver as aventuras da natureza reunem-se no meio do Saara para celebrar a sedução. Assim caminhavam Halam e Hufad com seus carneiros, ovelhas e camelos, alimentado-se de sua autogestão e iogurte. Chá. Chá no deserto.

   Halam caminhava e escutou um breek de um animal e um booork de outro. De repente seu corpo começou a formigar um além da tal bolinha dentro de si a seco que se perguntou se haveria de ser e a resposta em vez de ouvir o halam malek de sempre de Hufad ouviu um ssssshhhhhhurkalapatup de uma cobra vindo em sua direção, najas no deserto são uma rotina, ignorou-a, najas olhando-o no olho não é tão comum assim, muito menos se ela agiganta-se e transmite-lhe palavras claras em bom árabe da África do norte. Resigne-se. Pô! Cobra! Resigne-se? É tudo que voce tem a me dizer? Resigne-se. Não pergunte o porquê, mas, pergunte-se para quê. A cobra sibilava e transformava-se num oásis, ai que bom , pararemos, descansaremos a sombra, beberemos água pura, dormiremos ao relento, protegidos do vento e insetos, oásis, falam tanto. Ao caminhar para essa miragem a areia começou a fundar enquanto vislumbravam as palmeiras e o lago, mas afundavam a medida que se moviam, areia movediça, oco do nada, um além negativo para baixo, Halam foi sugado. Sentiu a mão de alguém quando lhe restava nada apenas o pescoço para fora. Hufad. Obrigada. Bad trip.

   Hufad caminhava e escutou um breek de um animal e um booork de outro. De repente seu corpo começou a formigar um além da tal bolinha dentro de si a seco que se perguntou se haveria de ser e a resposta em vez de ouvir o halam malek de sempre de Halam seguiu em direção ao sol que se punha nas areias e dunas alinhadas e de repente as linhas do horizonte transformaram-se em efeitos de sombra tipo glitter provocando uma onda maior em energia pictórica vindo em sua dimensão e não saberia dizer se era perolado, metalizado, reluzente ou simplesmente cores primárias, mas enfim passaram por alí, por Alá, sombreados estourando em amarelo e depois laranja, grita um vermelho, rui para o rosa, diz-se magenta, simula-se um salmão, suavemente para um azul, grita cian, espirra violeta, ejacula roxo, relaxa esmeralda, volta-se e enfim nessa atmosfera psicodélica sentiu a vibração da tromba de um elefante que soprava o ar em som de aviso de seu desejo e alertou-o para algo mais a sua volta. Hufad estendeu a mão e salvou Halam.

    Halam e Hufad alcaçaram Ingal, a festa no país de Niger para onde se dirigiam. Apresentaram seus olhos brancos com a vulgaridade e sutileza necessárias para passar a idéia da sacanagem, mostraram seus dentes brancos e uma arcada completa sobrevivente a tantas inquisições que o Saara lhes contemplava para tentar seduzir, arma secreta do DNA de todas as espécies.

     Cataram, cada um, uma. E assim prosseguiram nômades, em suas tribos, para seus povos, em seus habitats, nada além dalí. Areia e areia. Duna após duna. Para ir em direção a lua cheia. E nada mais. Trocar o sal.

Que viajem!

 

Giovanna Gold © todos os direitos reservados a autora

 

O PODER DA PALAVRA

 

Ciclo de palestras ESCREVENDO PARA A TV

Palestrantes:

  • Tiago Santiago

  • Maria Carmem Barbosa

  • Ana Maria Moretzhon

  • Manoel Carlos

Dezembro de 2009

Produção: Sumaya Garcia

Teatro Municipal Café Pequeno

Administração: Paulo Reis

Prefeitura  do Rio \ Cultura

 

“Terra fogo ar água”

Cenário: teatro, no palco piso terra, palestrante sentado ao trono.

  Uma pequena introdução, hábito de escritor e de qualquer outro formato tese – antítese – síntese e sexo. O protagonista da palestra apresenta-se como o carpinteiro. Madeira a ser trabalhada de 200 capítulos. Há de cumprir 12 tarefas herculíneas para ser pontual em seu compromisso de ali estar, frente a todos, curiosos, aspirantes, amigos, sobreviventes do assunto, e do oficio de escrever 50 páginas por dia. Como um personagem poderoso que decide destinos e a dinâmica suspirosamente novelesca da menina do quartinho ao fundo sonhar em ser feliz no amor, de preferência com o galâ rico que descobre quem matou quem, a partir do capítulo cem, quando tudo muda de lugar e os núcleos reciclam-se entre os cenários e a trama refresca-se. Virão mais tantas escaletas para criar diálogos, mais á beça. Uhu! É uma realização extraordinária! Heróica seria se envolvesse salvar vidas, livre para criar, quem sabe até resgatar a personagem que persegue a fama até sua morte, Verônica, Verônica decide morrer, cansou de pagar as contas e do obscurecimento da luz, como diria o I Ching, cotidiano de civilizações desde a pré-história bíblica, nosso dia a dia. Quem sabe seria a trama principal essa falta de comunicação da personagem com esse perfil suicida, essa esquimó buscando o poderoso autor aborígene capaz de manter sua vida fictícia como real, quem sabe o perfil fosse à transformação psicológica de iludida em realista, mesmo após a morte num Crepúsculo dos Deuses? E simplesmente a vida lhe ensinasse que a vida é em si mais importante que tudo, a ciência de saber-se vivo, que é maré e basta ter fé. Aceitá-la com a singeleza que flores amarelas sabem vir apenas para serem flores que caem no chão, flutuam na Lagoa, são flores amarelas enfeitando a paisagem. Flores. Ou para outro personagem o tempo consciente é ao contrário, aniversários a menos, na comemoração de conseguir chegar até aqui e faltar pouco, ufa, desse esforço que é estar de pé. Digna. Aonde seria o clímax? No dilema do personagem ao tomar veneno, ou na culpa do escritor ao minimizar uma necessidade, quem sabe na atuação da atriz que interpreta a situação mágica realista? Profusão de prosódia. Ou não. Sempre há ou.

   Ora, ora, ora, muitos vão falar mal e analisar esse texto como assunto na casa de criação e na oficina de autores, embasados nas peças de França Jr. E Silveira Sampaio, claro que sim, são dedicados e estudiosos, criticam o que seria uma farsa e realizada chanchada, tem razão, esse humor negro não tem horário, quem sabe na TV a cabo, para uma autora desastrada e está mais para uma comédia de erros de achar que a aborígene e o esquimó com a, digo, a esquimó e o aborígene, com a atriz talentosa, se enganam pela distração e foi dada a largada, roda VT. Melhor a autora de humor sério Peter Sellers escrever a sinopse e três capítulos de sua novela “A Bíblia” insistindo que no trágico, só rindo.

Cenário: teatro, no palco ao fundo fogo, palestrante sentada no trono.

Sabe aquela da vovozinha sentada no bonde com um pacotinho nas mãos e a cada sacudida que o trem fazia, ela falava para o distinto passageiro de pé se equilibrando, cuidado com os ovos? As tantas o cara perguntou, são ovos? E a vovozinha, não, são pregos. A palestrante é uma one woman show. É de berço, a gente não deu essa sorte dos pais serem piadistas, gente de televisão, pra criar desse jeito rindo e tirando sarro de tudo, até da cartinha adeus mundo cruel do irmãozinho de nove anos, cansado dessa vida de levar bronca do pai e além de fugir decidiu morrer, mas ao ler o pai concordou com o filho: é bom mesmo que ele se vá, onde já se viu escrever suicídio com dois ésses?! Suissídio. Afinal esse problema de morrer, isso é uma coisa muito pessoal. Corta para, garotinho passeando de barco com o amiguinho na Baia de Guanabara e tomando milk-shake no Iate clube. Já era, falar a sério de escrever bobagem, não dá. Pena que quando em sua casa na infância, freqüentada por comediantes, palhaços, intelliggenzzia, artistas, bossa na vida real, criança não estava na moda, por isso o olhar afiado quando ela chegou de tutu para dançar ao piano de Tom Jobim, ainda insistiu, mas foim foim foim, papai ficou pu...furioso! Foi pro quarto pendurar as sapatilhas, mas não a persona performática superlativa exibida esperta e sagaz. O pai ainda comentava sobre o caráter da menina. Deve ser resultado da alimentação baseada em mingau de maisena, mal não faz.

   A garota que só usava calça Lee era aos olhos da família um perigo para perder o rumo, gostar mesmo, mesmo, era de ir a praia em Ipanema, pegar sol na varanda com muita camada de ozônio... Enfim, assim não podia continuar, tinha que objetivar. Educada na grande família Trappo com o primo rico e primo pobre balança, balança, mas não cai, tem a mentalidade metalingüística e discernimento intuitivo para humor afiado nas idéias e fatiar os preconceitos. Sabe que se repetir o mesmo it três vezes, causa. Sente que se um tipo ampliar a si mesmo mil vezes, arranca. Gosta quando chega a ser patético, porque nós próprios somos, e nos supervalorizamos, achando que mesmo não enxergando, cegueta, peitamos limpar os óculos no escuro. Foi, pegou o paninho, o liquidinho, fez direitinho e saiu. Na primeira brisa da rua, as lentes embaçaram e tchau. Teve que voltar pra casa pra limpar os óculos com os outros óculos de perto e com a luz acesa. Mas observando bem, no retorno a casa vários gatos a seguiam, como uma flautista de Hamelin. Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan. Com um aroma de feromonio Victoria Secreto. Ficaram esperando na portaria. E voltou para o toalete para corrigir a lavada. Ah!Tá!Tá explicado, em vez de usar o Bausch e Lomb, usou o desodorante íntimo feminino “lavou tá novo”. Imagina! Fácil criar a personagem Julieta a garota com cheiro de.

   Quando tem que se preparar para apresentar algum material, estuda, assiste, transcreve, decora, visualiza as câmeras, o tititi do camarim. Tá no sangue, não tem como clonar. Vai até onde pode chegar pra fazer cosquinha no coração.

  Talvez tenhamos nos conhecido em SAMPA, e por isso tenha ficado surpresa que eu não pegue tanto no microfone como as pessoas imaginam. Não perco a piada, mas sou tímida. Depois me deu uma chance, um teste para a novela BRILHANTE, e a Montenegrinho fez também, um texto com início - meio e fim, brilhantemente, de emocionar Daniel Filho! Eu vi. Ganhou o papel. Talvez seja por isso que a Palestrante saiba me ler tão bem, melhor que eu em disfarçar com minha expressão ensaiadamente diplomática de não levantar polêmicas dado a minha natureza áurea e aérea, captou minha dissimulação e pudemos concordar que interpretação tem um padrão Prada de vestir, não é qualquer diabo. Ela é global. Uso meus óculos escuros gigantescos drop dead diva para me defender da exposição, inibição pode ser engraçado, afinal sou apenas uma boa atriz em frente a uma palestrantérrima capciosíssima.

Cenário: teatro, no palco: ventiladores, palestrante sentada no trono.

   Disque 193, Bombeira para trama. Se as coisas estão demorando muito a acontecer, chame autora, se falta romance, disque escritora, se precisa formatar um piloto low budget, que seja uma oficina para novos talentos em escala industrial, call 1A. 13M. 13M.. Quem tem um background de jornalista sob governo Médici, Figueiredo ou Geisel aprendeu na realidade a escrever ficção. Deturpar os fatos, colocar palavras em outras bocas, envolver com estórias de amor a abstinência de cidadania. Melhor então se arriscar num caso verdade, na época fértil da casa de criação e mentir menos que em jornal.

   A bagunça é organizada em 1\2 p\dia, são mais ou menos 20 personagens que zamzam numa esquina, divididos por cenário, trabalhando num World normal com seus Ctrl. Se adaptação, decupa a linha mestra da estória e cria livremente, a linguagem é televisão, antes de tudo. Lê bastante, sempre leu, Moliére, técnicas de roteiro, lista os personagens e fundi o que tiver que fundir, exalta os que tiver que exaltar e deixa os fundidos em paz. Nunca, em hipótese alguma, neve ever, enterra um personagem, deixa em coma, foi viajar, sumiu, mas velório com carpideira, não. Só se a continuação for o encontro com São Pedro para definir a eternidade. Pode também. Um assunto atual é uma recomendação boa para captar a atenção, por exemplo, agora, as Olimpíadas no Rio em 2016, pode ser um jovem pretinho sofisticado da favela que luta para ser atleta e tem um lance com a bailarina zona sul que também quer participar das Olimpiadas culturais, num Rio de janeiro fictício onde o prefeito seria carioca e não da barra da Tijuca, que gosta de praia, bebe mate com queijo, tradição, nem quer o povo desempregado. Um prefeito a favor, não contra. Que tenha sido eleito com os votos sem manipulação do governo quanto a feriado de servidor publico. Aquele prefeito que fez história, pegou em arma por uma causa, que tem um plano de reciclagem de lixo, limpando e empregando ecologicamente os locais, pessoal e territorial, em vez de chamar o povo de porco. Que muda a lei para incluir todo mundo que mora e trabalha aqui, legaliza os ambulantes, valoriza os barraqueiros, em vez de multar por descarregar as bebidas que depois os cariocas vão consumir, porque o povo tem sede. De justiça. Porque praia é diversão democrática, não precisa nem de dinheiro, nem de grife, nem de tanta policia, tá todo mundo nu e desarmado, bota os caras para trabalhar onde tem assalto de bicicleta, zona de conflito moral desses filhos de barraqueiros, ambulantes, que vêem a ostentação das bicicletas de Paris e querem ter, é da alma humana, querer prosperar, deixa os caras trabalharem para poder dar bicicleta pros garotos, garoto. Viabliza barracas leves, ventiladas, isopores que gelem, deixa eles usarem biquine, sungão, estilão, corpão. Aliás, cria uma concorrência de designers e premia através de uma licitação estética. Lembra das vacas? O Rio exporta essa leveza de ser. Explore a individualidade. Em Oxford eles estudam o “jeitinho brasileiro”, simples, meu caro Watson, necessidade traz criatividade. Deixa que a natureza cuida, aqui é auto-gestão. Dá educação que brasileiro é tão bonzinho, vai botar na lixeira com gosto, bota lixeira, pra começar. Dá dentista pro povo sorrir branco, constrói casa pro pessoal morar, comida e Titãs. A equação é simples: trabalho, casa, comida, dentista, escola, cultura. Deu para acompanhar ou...? Não maquia a anarquia, falseando em capitalismo. Prefeito que dê exemplo, que nos faça respeitar os políticos, porque brasileiro é tão bonzinho, mas não é idiota. Um Rio de janeiro 2016 assim positivo, comum a todos, para o William virar campeão olímpico e namorar Gigi, o cisne da Lagoa. O primeiro capítulo dessa novela a palestrante faz sozinha, tem que estar inspirada, tem que ser especial, bem trabalhado. Outros, para ter uma frente para ir ao ar, arejando os percalços da produção possíveis atrasos entre afetos e desafetos da equipe. Dividindo funções entre seus colaboradores, jovens insistentes e surpreendentemente agradáveis.  

   Eu, Gold, autora desse texto, venho por meio deste parágrafo dizer que ficaria muito feliz e daria meu máximo na pedreira e alvenaria, se tivesse a oportunidade de ser sua colaboradora, especialmente quanto à diálogos sólidos. Aproveitando o momento de negociação e possível formação de novas equipes. Por favor, cogite-me. Senão...

   Tem papel pra mim?

Cenário: teatro, no palco: parede de água escorrendo, palestrante sentado no trono.

   Tapete vermelho para o autor do horário nobre que vai ao ar hoje à noite no quatro, assisto no quarto. Bairro, dona fulana, dona sicrana, um grande irmão, quem veio, quem não quer ... Como Antunes Filho falava na minha época, o naturalismo é como se você passasse em frente a uma janela e roubasse a imagem daquela situação cotidiana. Para interpretar assim, é bom sentir o cheiro da comida na cena da cozinha, o contato físico com o colega, transmitir sensação para causar emoção. Razão da ação de atuar. Tem outra linha artística que me fascina que seria algo como realista, num programa, por exemplo, “Prime Suspect” com a Hellen Mirren fazendo a Superintende Tenninson, o telefone toca ao fundo, o policial figurante come um sanduíche, outro ator intervêm, todo mundo está em cena, interagem na situação, ensaiam o cotidiano daquele posto policial antes do texto ser analisado, antes da gravação, sem afetação, aliás, desprovido de sublime. Pré vivem a vida. Mas, isso é a BBC de Londres, deixa Helena Mirren pra lá.

   O problema da ficção é ter que fazer sentido, a realidade, não. Se o pensamento de Aldous Huxley é a cobrança sentida por nosso palestrante cinco estrelas, que o fez vir mais distante que o normal, em seu próprio bairro, quase fronteira com outra jurisdição, para estar aqui frente a frente a moi, vou considerar. Procede. Outro dia estava na praia ao lado do bairro e tinham umas quatro \ cinco fêmeas: mulher, menininha, mocinha, e a mais velha falando alto, batendo com as mãos na coxa do biquine: - garota, cadê a garota?, garota. Vai catar a garota, garota. E comentamos um paulista que me emprestou a sombra, enquanto sentava na cadeira emprestada da mineira, usando o isqueiro emprestado do gaúcho (é muito fácil ser feliz no Rio de Janeiro!): - se alguém escrevesse isso soaria falso! Cataram a garota e saíram pra pegar a van, que apesar de ilegal, funciona como locomoção. E chegou um grupinho de machos: homem, menininho, moço, que pararam bem em frente de onde estávamos, com altas bicicletas! Cada uma mais leve e possante que a outra, modernas, reluzentes, 4 \ 5 bicicletas poderosas, sem trancas, na areia, na beira d’água. De pé ficaram. Enquanto o menininho se esbaldava na água com o garoto e o garoto. Nem eu, nem o paulista da sombra, nem a mineira da cadeira, nem o gaúcho do isqueiro, falamos nada. Bicicletas de Paris numa cidade sem bicicletário...! Deixa quieto. Junto e misturado...

   Sob a nudez crua da verdade, o manto de fantasia. Se Eça de Queirós inspira o merecimento do público em ter um final feliz ao nosso palestrante cinco estrelas, vou considerar. Seres humanos têm trajetórias que o destino os impõe e nada podemos fazer a não ser viver a vida, porque nos laços de família a gente age por amor. E é assim. No entanto, mais que ele o protagonista tema e palestrante, a estrela mais falada foi a filha dele, atriz, sonho do pai por considerar a profissão a melhor do mundo, onde pode-se viver várias estórias, e ser freira uma hora e puta na outra, grandes emoções, e manda flores e fica arrepiado com suas Troianas, e amam e beijam, todas, menos a filha. Minha filha não. E a filha: como assim?! A menininha do papai, não. Nem beija, nem cena com o ator com magnetismo, nem briga, sempre a filha boa, amiga boa, nem uma mulher boa pode ser!... Teste pode fazer, mas, não vai passar. Papai não quer ver sua filhinha se embolando em cena. Nãnãnã, a menininha do papai, não... Sua naturalidade em admitir esse sentimento autenticamente convexo é que faz desse criador tão saboroso. Fala do que conhece e cada um é em si um universo, apesar de seus 70 personagens numa novela, generoso, dá emprego para todo mundo, cheio de ator desempregado por aí que chega a ser clichê, Tootsie, Joey, Moon over Parador... Sem dramas. Lança preferências nacionais. E como é que ele escreve em colaboração? Vão para um restaurante, tomam uma garrafa de champagne para começar, depois uma de vinho e ficam falando sobre sua obra em comum, mulheres falando de novela... Ai que gostoso! E como é que ele escreve? Ué?! Da esquerda para a direita!

 

 

 

 

 

Giovanna Gold
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